quarta-feira, 18 de março de 2009

de nuvens e montanhas






Em 2002, foi realizada uma exposição na Suiça, nos moldes das grandes exposições internacionais. Uma das atrações foi o Blur Building, projetado pelo escritório Diller Scofidio e consistia (não sei se ainda está de pé ou se foi temporário) numa plataforma sobre um lago, na qual foram instalados 31400 aspersores de alta pressão, controlados por computadores que alteram o fluxo de água, a direção dos jatos, etc. Os arquitetos dizem o seguinte sobre a proposta: "entrar no Blur, ao contrario de entrar um espaço, é como entrar num meio habitável, sem forma, sem características, sem profundidade, sem escala, sem volume, sem superfície e sem dimensões". Confesso que tenho dificuldades em enquadrar tal definição na categoria de arquitetura: assim como a literatura não pode abrir mão do texto escrito, uma arquitetura sem espaço é problemática. Para mim, trata-se de uma experiência sensorial e de uma provocação. A provocação nos obriga a repensar os limites da própria arquitetura, e essa minha contestação inicial não é suficiente para isso. Quanto à experiência sensorial, seria oportuno pensar na ampliação das possibilidades, para verificar se o termo "arquitetura" se aplica a elas. Para isso, proponho a inclusão no debate, das montanhas-russas, como a Fahrenheit da foto e do filme abaixo, que propôe um mergulho vertical, com uma inclinação de 97 graus :

Diller e Scofídio usam na sua defesa, uma afirmação de Hans Hollein, de que "tudo é arquitetura". Discuto essa posição no meu artigo, recentemente publicado na revista Estudio, do qual destaco esse ponto:
"(...) temos, no Brasil, a nutrição de um ideal paradoxal de arquiteto: o técnico generalista. Inverte-se aqui a lógica de uma disciplina que é constituída por muitos sistemas, e passa-se a fomentar a idéia de um profissional que faz de tudo. Se a Bauhaus procurava orientar o estudante no sentido de identificar suas habilidades inatas, formando tanto designers quanto artistas gráficos e arquitetos, aqui se pretende que todas as habilidades reúnam-se num só indivíduo.
Diante de uma tarefa tão complexa, as escolas, mesmo sem um cometimento explícito, se refugiam na superfície e passam a preparar o arquiteto “para a vida”: no futuro serão todos publicitários, o paradigma contemporâneo do generalista.
É Massimo Scolari quem comenta:
“(...) o velho adágio, da colher à cidade, me parece hoje tão sinistro quanto a idéia de que todos possam fazer de tudo, com direito e mérito iguais. Nada é mais pernicioso que esse nivelamento, presunção de regimes de massa e meta de uma democracia equivocada”

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